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23/05/13
" desperta-nos "
desperta-nos, Deus,
deste exílio imóvel, acomodatício
desperta-nos da obscuridade
em que se pressente o afecto da luz
para o claro dia
em que o teu Nome enlace
a terra e o céu
desperte-nos o anjo do dia
em tempo de paralisia das palavras
e de pobreza extrema diante do invisível
e dá à nossa vida a graça do tempo
para perceber a fugacidade, o voo dos pássaros
o ruído do que nasce e irrompe
agregue-nos a luz do presépio
e que os labirintos dos nossos afectos
se iluminem à voz da tua Palavra
Mourão, José Augusto. O Nome e a Forma: poesia reunida. Lisboa: Pedra Angular, 2009, p 271.
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" arte das passagens "
Deus que amas o anjo e a pedra,
a ortiga e o narciso
porque o diferente é melhor
que a monotonia do número igual
tu que dispões os nossos afectos
para a arte das passagens,
a anaforização do sopro
que a cada idade diz o seu ritmo,
o seu compasso, a sua pausa
dá a esta hora
a memória de todas as horas
e o alvoroço dos acontecimentos partilháveis
e em todo o tempo a nossa boca
anseie pelo teu Nome e a tua graça
Mourão, José Augusto. O Nome e a Forma: poesia reunida. Lisboa: Pedra Angular, 2009, p 181.
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18/05/13
" alegria das navegações "
desarma-nos, Deus,
do gelo de violência
que tanto exibimos
como dissimulamos
defende o espaço das nossas relações,
sem nos tornarmos ostensórios,
carpideiras barrocas,
sobre a curva da onda que vem
e nos descreve a rota das metamorfoses
defende-nos das classificações exangues
e da paixão da regra
que nos sepultam vivos, exilados, cínicos
tenham os nossos actos
o ritmo e a cadência do possível,
Deus que esperamos na alegria
das nossas navegações
e que nos convocas para esta hora de luz
e de passagem
Mourão, José Augusto. O Nome e a Forma: poesia reunida. Lisboa: Pedra Angular, 2009, p 139.
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08/05/13
" da coragem "
Deus, ensina à nossa vida que não há coragem inútil,
que os lugares do impossível se deslocam
quando a confiança toca o chão das coisas
e não é crença ornamental, alegoria
liberta a nossa vida do discurso da resignação
que é o fatalismo,
do derrotismo, que é a filosofia espontânea dos proletários
livra-nos, Senhor, do niilismo passivo, da crença desfeita --
as grandes portas abertas ao fascínio do terror,
livra-nos de tolerar o mundo,
a perversão à escala industrial, a conivência da morte
dá ao nosso corpo a graça das viagens sem bagagens,
sem outro futuro que a coragem,
sem outro combate que a justiça e o direito à diferença
arma os nossos olhos da paciência ardente
e os nossos braços da ternura real,
para acolhermos a aurora do teu Dia
no cruzamento do que em nós se repete e se interrompe,
se desloca e se excede,
e descubramos o esplendor da tua face
de mãos dadas com quantos,
de todos os horizontes te procuram
e te proclamam
santo, justo e imortal
Mourão, José Augusto. O Nome e a Forma: poesia reunida. Lisboa: Pedra Angular, 2009, pp 27 - 28.
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