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19/09/11


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Já desejei mulheres modernas como troféus.
Coleccionava corpos como selos, ajustava
o denteado, aquele ângulo a que se chama
joelho para que se não estrague no álbum,

fazia verbetes com os temas, os nomes
dos países, as cores impressas ou dos olhos,
o tom de pele sob a luz daquele candeeiro.
Sentavam-se na beira da cama, apertavam

o soutien e a luz caía desesperada - o tom
da pele nas gradações pontuadas pelos
sinais, sei-me entendido pelas noites

sucessivas de observação. Ninguém merece
desistir daquilo que mais ama - repetia para
mim e para cada uma como verdadeira razão.

  Jorge Reis-Sá in " Mulher Moderna", Ulisseia, Lisboa, 2011, p 24.
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Não sei possível vida mais desinteressante
do que esta. Levantar pela manhã sem um único
objectivo, levar o corpo à segunda repartição
de finanças, corrigir impressos a gente ainda

mais desinteressante do que eu. Assim o espero.
De nada vale esperar. Têm filhos, dois cães, um
gato, meis dúzia de cágados a rebolarem-se à vez
no esterco da água. Venho à tardinha para casa.

Poder-se-ia pensar que a tempo de me ser útil.
Mas vejo televisão só para esperar, penso
nas famílias dos cágados, no Tico e no Fofinho

com o pêlo afagado pelas crianças. Ligo a internet,
engato mais uma desesperada e rapidamente no seu
corpo estes pensamentos tão impuros são nada.

 Jorge Reis-Sá in " Mulher Moderna ", Ulisseia, Lisboa, 2011, p 27.
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06/05/08




o mundo pelo teu último sorriso,
a vida pelo teu primeiro olhar


Jorge Reis-Sá, In "A Palavra no Cimo das Águas"


a vida inteira esperei por
alguém como tu

mesmo sabendo que não sei como és

e mesmo que
ainda não se tenha passado
a vida inteira


Jorge Reis-Sá, In "quase e outros poemas
de querença"