19/09/11


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Já desejei mulheres modernas como troféus.
Coleccionava corpos como selos, ajustava
o denteado, aquele ângulo a que se chama
joelho para que se não estrague no álbum,

fazia verbetes com os temas, os nomes
dos países, as cores impressas ou dos olhos,
o tom de pele sob a luz daquele candeeiro.
Sentavam-se na beira da cama, apertavam

o soutien e a luz caía desesperada - o tom
da pele nas gradações pontuadas pelos
sinais, sei-me entendido pelas noites

sucessivas de observação. Ninguém merece
desistir daquilo que mais ama - repetia para
mim e para cada uma como verdadeira razão.

  Jorge Reis-Sá in " Mulher Moderna", Ulisseia, Lisboa, 2011, p 24.
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