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05/12/11

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  " Antínoo & Adriano "

 
Esta é a zona batida pelos afogados
Esta é a velocidade máxima de quem submerge
aqui as romãs romanas não crescerão mais
& duas águias de névoa orvalhando sandálias
adolescentes na grama de primavera escrevem
a palavra remember
o doce Antínoo com seu arco carregando
corações maduros na aljava na fenda-essência
da história
os semáforos do tempo acendem seu sinal
verde por cima de sua
longa cabeleira
este doce garoto
partiu o coração do imperador
o Império adorando um deus adolescente afogado no Nilo
sem esperar a Manhã egípcia chegar
Adriano chorou o resto de sua
vida na villa ao sul de Roma
as paredes rachavam pelas tardes
deixando entrar as lembranças
houve um tempo nas montanhas da
Bitínia quando as caçadas se prolongavam
até a hora do amor
o vinho Falerno aderindo aos estômagos
vazios enquanto os olhares se
cruzavam sobre o javali assado rodeado
de frutas
este amor construiu seu império na
memória & as escamas de
meu cérebro caem ao contato de
seus dedos
os poetas latinos ouviram provaram
entenderam este tesouro afundado
nas tripas do tempo
resta o vento de verão nos caminhos
onde eles andaram

  Roberto Piva  in " obras reunidas, volume 2 - Mala na mão & asas pretas ", Editora Globo,
São Paulo, 2006, pp 84 - 85.
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  " A Coréia é na esquina  "


Assim não dá meu tesão
eu começo a sonhar com você todas as tardes
& você lá em Santos
comendo amendoim
vendo anjos nas cebolas do mercado
navios entram & saem do porto polidos
eu corto as veias & rego meu queijo-minas
você me ama eu sei & me envaideço
amoras jorram a beleza anarquista de suas
coxas molhadas
o peixe-espada pode lhe declarar amor
eu penso nestas ilhas perfumadas
mas o caminho de volta eu só conto
a este urubu em carne viva
que grasna na sacada.

  Roberto Piva in " obras reunidas, volume 2 - Mala na mão & asas pretas ", Editora Globo,
São Paulo, 2006, p 133.
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04/12/11

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Pólen costumava organizar sua vida às quintas-feiras mas
estávamos numa quarta & sua loucura era da pesada sem
distinção de raça credo ou cor & uivava pelas ruas com
duas panteras pintadas em seu peito falando com os amigos
sobre as poesias de Maquiavel, César Bórgia, Castruccio
Castracani o herói das galáxias medievais no início da era
burguesa dos chinelos & pincenê agora devidamente
catalogada na Ruína Absoluta sem permeios kennedianos
na mexerica & suas pompas fúnebres.
O trombadinha quis saber se Pólen acreditava no lúmpen.
O trombadinha tinha sido descabaçado por um esquimó
bolsista da PUC. Polén declamou doze poemas escritos
contra a CIA. O trombadinha queria dar.
Pólen o comeu ali mesmo, depois de roubar sua camisa.
O trombadinha queria mais.
Pólen então chamou seu amigo economista sádico &
classicista & fez ele comer o trombadinha que suspirava
dizia palavrões inflamados pedia para ser cintado & chamado de
Arlete & toda a imaginação delirante de Eros irrompeu no
cérebro do economista que queria ver a vertigem de perto
antes de se converter para sempre ao ateísmo militante
soltando suas farpas contra a figura de Nonô o Curandeiro
padroeiro do trombadinha.

  Roberto Piva in " obras reunidas, volume 2 - Mala na mão & asas pretas ", Editora Globo,
São Paulo, 2006, p 59.
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