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07/11/12
( Poema 37 do Ciclo " 42 canções entre 2 portas" )
Ó mundo vivo lavra-me o viver,
ilumina-me a boca, carrega as minhas mãos
para atravessar as ondas,
traduz-me o mar nos palcos taciturnos.
Se me deres um só fogo eu saberei usá-lo com maior
sapiência,
encaminhá-lo-ei pela água derrubada
até ao lugar certo, ao cais
entreaberto, suspenso por duras palafitas,
sobre o medo.
Carvalho, Armando Silva. De Amore. Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p 70.
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06/11/12
" Dois em Fúria "
Um deles colhia a tristeza dos dias gordurosos,
do primeiro tabaco,
do vinho oculto,
do robusto bacalhau nas brasas, dos olhos que caíam
como bátegas
na luz demasiado pura dessa carne
fresca dos sentidos.
O outro, mais maduro,
tinha os joelhos duros no seu peito,
tapava-lhe a boca como um dorso, inteiro,
de pedra.
Soturno, abria uma cratera
no curso indeciso dos dez dedos
facínoras.
Não cabiam palavras naquele
anoitecer.
Dois corpos, dois cegos, dois eus ambiciosos.
Tudo neles era um mundo mudo
suspenso do terror da dor
e do prazer.
Carvalho, Armando Silva. De Amore. Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p 12.
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06/10/09
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Fizera arquitectura em Sevilha e no Canadá
Viera ter aqui para te fazer ciúme,
Criatura vibrátil,
Modelava o riso oriental com réguas
Finas, lisas, transparentes,
E recriava as casas com mãos breves de cera
E muita, requintada submissão.
Trazia sempre à luz o seu perfil elástico
Confundido nas falas dobrava-se em silêncio.
Foram meses de ouro para mim que não te ouvia
Desdobrado em amores também australianos.
Tens que aceitar-me as costas, e só, com a dor
Arrefecendo-me os flancos
Na tua intimidade que já nem recalcitra.
Seishu parou de aparecer voou para Nova Iorque
Talvez Hamburgo lhe gele agora o reticente cabelo.
Como iria eu saber que já não tinhas pátria
Quando os olhos de flecha meio cerrada
Me fitavam de longe, fotográficos?
Na praia do Meco ou nesse altar do desejo
Erguido sobre o mar enraivecido
Como colunas brancas e pedras amarelas de tabaco
Pernas e dentes sitiavam-me o corpo.
Seishu, um nome simples
Que articulava, em coro, uma inteira panóplia
De pequenos gestos e pássaros
Um tecido de luxo, decisivo e tão puro
A envolver-lhe as nádegas.
E tanta espuma risonha e tanto bem saber
Na tua boca fresca.
Eu já não te sentia no meu espaço
Não te exaltes
A memória enaltece os nomes concubinos.
Tu não estavas no sangue, tolhido na garagem estranha
O teu corpo esfriava
No vazio.
Armando Silva Carvalho In "O Amante Japonês, Assírio & Alvim,
Lisboa, 2008, pp 40-41.
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Fizera arquitectura em Sevilha e no Canadá
Viera ter aqui para te fazer ciúme,
Criatura vibrátil,
Modelava o riso oriental com réguas
Finas, lisas, transparentes,
E recriava as casas com mãos breves de cera
E muita, requintada submissão.
Trazia sempre à luz o seu perfil elástico
Confundido nas falas dobrava-se em silêncio.
Foram meses de ouro para mim que não te ouvia
Desdobrado em amores também australianos.
Tens que aceitar-me as costas, e só, com a dor
Arrefecendo-me os flancos
Na tua intimidade que já nem recalcitra.
Seishu parou de aparecer voou para Nova Iorque
Talvez Hamburgo lhe gele agora o reticente cabelo.
Como iria eu saber que já não tinhas pátria
Quando os olhos de flecha meio cerrada
Me fitavam de longe, fotográficos?
Na praia do Meco ou nesse altar do desejo
Erguido sobre o mar enraivecido
Como colunas brancas e pedras amarelas de tabaco
Pernas e dentes sitiavam-me o corpo.
Seishu, um nome simples
Que articulava, em coro, uma inteira panóplia
De pequenos gestos e pássaros
Um tecido de luxo, decisivo e tão puro
A envolver-lhe as nádegas.
E tanta espuma risonha e tanto bem saber
Na tua boca fresca.
Eu já não te sentia no meu espaço
Não te exaltes
A memória enaltece os nomes concubinos.
Tu não estavas no sangue, tolhido na garagem estranha
O teu corpo esfriava
No vazio.
Armando Silva Carvalho In "O Amante Japonês, Assírio & Alvim,
Lisboa, 2008, pp 40-41.
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04/10/09
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Fiel até ao fim. Fiel até ao fel.
Há muito que não sei levar-te a mim.
A esta rude, estranha transparência dos meus dias.
Não sei se me desculpas
Ou imploras aos teus deuses que me assaltem.
Quantas vezes, perdidos já os dois, me confesso inerte dentro do teu corpo,
Cansado dos que suam e não me sonham
Dos que sonham corpos e trazem na cabeça, arrastados pelo medo,
Um suor submisso, um rouco respirar que não me alcança.
E eram mãos absurdas, vermelhas,
Rodadas, rodeadas
De pequeninos coros de papel, vítimas do mundo
E loucas de saberes
Que tu atropelavas nas ruas, selvagens,
Assassino infiel do meu destino.
Armando Silva Carvalho In "O Amante Japonês", Assírio & Alvim, Lisboa, 2008, p 14.
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Fiel até ao fim. Fiel até ao fel.
Há muito que não sei levar-te a mim.
A esta rude, estranha transparência dos meus dias.
Não sei se me desculpas
Ou imploras aos teus deuses que me assaltem.
Quantas vezes, perdidos já os dois, me confesso inerte dentro do teu corpo,
Cansado dos que suam e não me sonham
Dos que sonham corpos e trazem na cabeça, arrastados pelo medo,
Um suor submisso, um rouco respirar que não me alcança.
E eram mãos absurdas, vermelhas,
Rodadas, rodeadas
De pequeninos coros de papel, vítimas do mundo
E loucas de saberes
Que tu atropelavas nas ruas, selvagens,
Assassino infiel do meu destino.
Armando Silva Carvalho In "O Amante Japonês", Assírio & Alvim, Lisboa, 2008, p 14.
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