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08/05/12

" Pássaro, pássaro de fogo!// Olhos que te viram cegaram/ para ver-te melhor!"

.
 " Pássaro de Fogo "

A princípio o vôo
foi baixo,
acaso tímido.
Com grande silêncio em torno.
As asas batiam,
batiam e fechavam-se
rascantes
- tuas asas e garras! -
contra a espessura do vergel.

Já pela relva
tombavam
sob teu hálito - violentos,
os frutos primeiros.

Contra as altas paredes
nem sequer investiste.

De súbito,
pelos flancos,
incendiaste a montanha.

De súbito cavalgavas o espaço
equilibrando-te
- aura e domínio -
entre o horizonte e a abóboda.

Contra o verde e o azul,
de tua sombra vinha sangue.
(Sob teus auspícios,
contra o ferro, a madeira e a crosta endurecida
da terra,
multiplicavam-se enxadas, foices e malhos.)

Clima de estranho sortilégio
com címbalos, flâmulas e ouro líquido
de outros planetas.

Era um canto, uma dança, um vôo,
o exercício da liberdade,
era porventura a descoberta
do espírito?

Pássaro, pássaro de fogo!

Olhos que te viram cegaram
para ver-te melhor!

   Lisboa, Henriqueta. Melhores Poemas. São Paulo: Global Editora, 2000, pp 70 - 71.
.

15/04/08

Poetas

Foto de Nuno Fernandes, sem título


Tanto Amor

Tanto amor imaginado
em condição de brinquedo
sem atinar com o sentido.

Tanto amor predestinado
para terminar tão cedo
no branco peito do olvido.

Tanto amor transfigurado
na solidão sempre ledo
pelo tempo de vivido.

Tanto amor acobertado
pela sombra do arvoredo
para depois desmentido.

Tanto amor atenazado
cede, não cedo não cedo,
pelo que já está cedido.

Tanto amor em bom-bocado
pelo quinhão do segredo
que foi à praça vendido.

Tanto amor recomeçado
mais belo após o degredo
pela arte de haver fugido.

Tanto amor entregue ao lado
da fúria sem nenhum medo
de haver matado e morrido.

Tanto amor pefeito amado
acima de todo enredo
por jamais existido.


Henriqueta Lisboa, In "Além da Imagem"