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26/07/12

" Também parecida contigo a noite,/ O que sobra de haver constelação, "


" Praia, de madrugada "

                                                                      Aos meus filhos e sobrinhos

Praia, de madrugada, coando luz
E Madragoa, barras de amor,
A Voz de América, sacos de haxixe,
No giro nocturno da baía...

Híbridas mulheres, carros de luxo,
Cães vadios, pedintes, noctívagos,
A brisa bole, em jeito de pipa, és tu,
A capa avulsa de um Paris Match...

Também parecida contigo a noite,
O que sobra de haver constelação,
Para que a insónia se apazigúe...

Outra musa, nem por isso igual a ti,
A nua, de nudez assaz desvalida,
De como vai em lua, a tua máscara...

Elísio, Filinto. Das Frutas Serenadas. Praia ( Cabo Verde ): Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro,
 2007, p 75.
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" Pois nestas coisas do amor, o género/ É puro detalhe... "


" Soneto desviado "

Soletrava ela ou ele - não importa,
Pois nestas coisas do amor, o género
É puro detalhe -, na retina da solidão
Retirada do fino mel de mim.

E dizia, a cada momento, sua sentença
De ficar ou de partir e a viagem,
A mais dolorosa, diga-se, nesta nau
Onde são outros os azimutes de pertença.

Também outros, que não eu, caídos
À terra vermelha das coisas paradas,
Ajoelharão antes os deuses de esquina.

E saberão ( dele ou dela ) essa coisa louca,
Uma vontade de voo no improvável,
Que em mim lateja como um soneto...

Elísio, Filinto. Das Frutas Serenadas. Praia ( Cabo Verde ): Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 
2007, p 44.
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" Conta-me um pouco de haverem deuses, "

" Tâmaras "

Das janelas, olhávamos o abraço da baía
Os mastros entrados pelas enseadas,
O movimento dos corpos soluçantes
A exaustão das horas que se abraçam...

Olhávamos também, amor, o sol a pique
Que, das manhãs, dourava todas as frutas,
Era tua rua de infância, e estavas nua,
Molhada chuva e eu, ali, liquefeito...

Conta-me um pouco de haverem deuses,
Só um bocado desse paraíso de bocas
Fá-lo sem medo, assim como as loucas...

Toca-me, pelo fundo, amor, tão frágil
Quão poderosa, foste, num só momento,
E ter aquilo sido toda a eternidade...

Elísio, Filinto. Das Frutas Serenadas. Praia ( Cabo Verde): Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro,
   2007, p 30.
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