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12/08/13

Em 2008 Ruy Espinheira Filho desloca-se a Portugal para presidir ao Júri do Prémio Camões, o mais importante prémio no âmbito das literaturas de expressão portuguesa  (Lisboa, Miradouro de Santa Luzia. Foto:  Miúcha ).



                " A Musa "

Talvez a amasse muito,
talvez não a amase nada,
talvez amasse somente
seu doce perfil na tarde,

ou só seu vestido branco,
ou só as tranças compridas,
ou apenas o passo leve,
ou somente o jeito esguio,

ou o olhar dissimulado,
ou as suaves sobrancelhas,
ou os seios imaturos,
ou a concha das orelhas,

ou só as mãos delicadas,
ou só os pés pequeninos,
ou as panturrilhas, ou
sua cintura tão fina,

ou... Mas eis que tudo amava,
sobretudo o que não via
do que a cabeça sonhava,
do que a roupa lhe escondia.

Tudo amava, de alma inteira,
até ficar quase morto.
E doido - de cometer
um primeiro verso torto.


  Filho, Ruy Espinheira. Elegia de Agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Editª Bertrand Brasil, 2005, pp 177 - 178.
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11/08/13



   Poema 3 do Ciclo " Adeuses "


As vozes da sabedoria
são águas pesadas que despertam
sujeiras e chagas onde tocam.
       Pois nos lembram
o que somos,
o que não queremos
ser,
o que não suportamos
ser,
o que nos desespera
de ser,
como o que foi dito há pouco
e mais verdades reveladoras
de que, por exemplo, somos apenas
sombras
e o mais que conseguimos
são mão cheias de trabalho e vento
que passa.

São vozes que ensinam
ninguém se poder saciar
jamais.
       Vozes
que se querem consoladoras,
mas o que nos dizem é que não há
consolo. Como
saber que somos efêmeros
nos consolará? Que somos breves e nunca
fartos,
por mais densa que seja a felicidade
de hoje,
       ainda maior
que a de Salomão em toda a sua
glória,
porque esta felicidade já vivemos e necessitamos
da felicidade de amanhã, do depois
impossível,
pois a vida
já se vai,
se vai.


   Filho, Ruy Espinheira. Elegia de Agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Editª Bertrand Brasil, 2005, pp 130 - 131.
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   " Outro Dia "


Que tudo se vá
e não volte mais.


Nem como distante
névoa de lembrança.


Que tudo se finde
e só reste cinza.


Da autêntica - sem
trapaça de fênix.


  Filho, Ruy Espinheira. Elegia de Agosto e outros poemas. Rio de Janeiro: Editª Bertrand Brasil, 2005, p 98.
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