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14/05/10

"Era mais fácil se o que resta fosse/ inesgotável e não um resto"

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"Depois de Tudo"

Mas era provavelmente
errado desde início o fim

esperado Amor inteiramente
consagrado à dor de querer

explicar o inexplicável sentido
do que não faz sentido

palavras ou actos tanto faz
Era provavelmente absurdo

pensar as razões e não razões
com que digamos sobra sempre

uma razão visível ou perdurável
para a dor da memória ainda quente

Era mais fácil se o que resta fosse
inesgotável e não um resto

para provarmos a única verdade
saber que tudo acaba quando se começa

depois de tudo ser já depois do mundo
Sobra a manifesta verdade

da ternura que quer intermitente
mentir e obedecer à memória cansada

rebentando na escrita
No poema um eco surdo
traz a permanente certeza

o fim da estrada, a certeza errada

António Carlos Cortez in "Depois de Dezembro", Editora Licorne, s/c, 2010, pp 49 - 50.
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12/05/10

"Confundo-me quando percorro/ do esquecimento o mar// em que mergulhei um dia "

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"Maré Vazia"

É mais o que esqueço quando lembro
Ninguém dá nome a este tempo
imerso em dúvidas
Às perdas sobrevém

(de tanto me esquecer) a tenebrosa
sensação de que invento
a verdade inflamável a odiosa
matéria da mentira em movimento

de palavras até tudo s'esgotar
Confundo-me quando percorro
do esquecimento o mar

em que mergulhei um dia
(o fingimento é a água cujo corpo
sorvo resgatando-me à maré vazia)

António Carlos Cortez in "Depois de Dezembro", Editora Licorne,
s/c., 2010, p 26.
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08/07/09

"querer um verso que dissesse tudo"


"Negra e branca" de Man Ray (1926) In "Centro de Arte Rainha Sofia", Madrid.
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"As Perdas Os Ganhos"
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Este não é o poema que eu gostaria de ter escrito:
tudo no fundo se resume no poema
à soma dos ganhos e das perdas
afinal tão semelhante à vida é esse jogo
de querer um verso que dissesse tudo
e nada mais dissesse
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António Carlos Cortez In "à flor da pele", Editora Casa do Sul, Évora, 2007, p 19.
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"A Pintura"


Monet tens a impressão da realidade
e ela não pode ser de outro modo
Misturas na tela as cores primárias
como hoje a pintora no seu atelier
traçando a negro a figura humana

A poesia é talvez o momento
em que a pintura é exercida
de outra forma Um défice de realidade
nos olhos Nesse tempo o poema
surge para um dizer novo

António Carlos Cortez In " à flor da pele", Editora Casa do Sul, Évora, p 48.
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