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27/01/13

" Um fogo interno lança/ A luz na nossa mente. "

 
 
                       " Hino 5 ( Final) "
 
 
 
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Aquele que ama e crê
Não chora num sepulcro,
Do amor os doces bens
Ninguém rouba nenhum.
A noite que inebria
Abranda-lhe a saudade -
Do céu os melhores filhos
O coração lhe guardam.
 
A vida descansa
Na Vida eternamente;
Um fogo interno lança
A luz na nossa mente.
Jorram as estrelas
Vinho da vida d'oiro,
E nós vamos bebê-lo
E ser um astro loiro.
 
Pródigo dom, o Amor
Cessa a separação,
Da vida o infindo mar
Em plena ondulação.
Noite d'êxtase só -
Um poema infinito -
O sol de todos nós
É o rosto divino.
 
 
     Novalis. Os Hinos à Noite. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, p 53 (Prefácio e Tradução de Fiama Hasse Pais Brandão).
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24/01/13

"(...) todo o lugar se elevou no ar mansamente ... "

 
 
                                    "   Hino  3  "
 
   Outrora, quando vertia amargas lágrimas, quando, diluída na dor, a minha esperança se desfez e eu me encontrava sozinho sobre o estéril montículo que encerra em negro e estreito espaço a imagem da minha vida - só, como jamais alguém esteve, impelido por um medo indizível - inerme, tão somente com um único pensamento ainda, o da carência. - Quando olhava em meu redor em busca de auxílio, sem que pudesse avançar nem recuar, preso por uma saudade infinita a essa vida extinta e fugidia: - eis que da distância azulada - dos altos cumes da minha antiga bem-aventurança, veio um frémito de crepúsculo - e de súbito romperam-se os vínculos do nascimento - a cadeia da Luz. Para longe de mim se voltou o curso do esplendor terreno e com ele, o meu luto - e também a melancolia fluiu para um novo mundo, infundamentado - e tu, exaltação nocturna, torpor do Céu, vieste sobre mim - todo o lugar se elevou no ar mansamente; e sobre o lugar pairou o meu espírito, desvinculado, de novo nascituro. Em nuvem de poeira se converteu o montículo de terra - e através das nuvens vi a fisionomia gloriosa da Amada. Nos seus olhos repousava a Eternidade - prendi-lhe as mãos, e as lágrimas eram um laço cintilante, irrompível. Milénios perpassaram a caminho dos longes como intempéries. Suspenso do seu colo, chorei lágrimas de deleite pela nova vida. - Foi ese o primeiro e único sonho - e somente desde então tenho uma fé eterna e imutável, no Céu da Noite, na sua luz, a Amada.
 
 
   Novalis. Os Hinos à Noite. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, pp 25 - 27 ( Prefácio e Tradução de Fiama Hasse Pais Brandão).
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