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29/04/13

 
 
     " O  Anjo "
 
Pousa o Anjo em meu ombro
E permanece com os pés
Cheios de sons que não escuto
Só adivinho o Anjo no meu
Ombro tem um jeito discreto
De falácia e uma cor
Que não se exprime por
Pincéis mas é real
A cor de suas vestes que não
Vejo a cor além da
Cor uma verdade acima da
Verdade como só o
Anjo pode ser
Aquela que não encontro e seus
Braços longos têm uma
Curvatura infatigável
A inocência de um quadro
De Chagall que não vi e
Seu rosto seu rosto
Lembra um pássaro que não existe
Um pássaro voando
Belo como a beleza
Intocável da liberdade
 
 
   Goulart, Helvécio. Poemas Reunidos. Goiânia: Editora da UCG, 2007, p 112.
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28/04/13



   " Pássaros "


Ela ficara simplesmente olhando
O vestido verde preso de um lado só do corpo
Uma jovem olhando o mundo que começava a afundar
O coração dos homens batia devagar
O relógio batia devagar dentro do coração dos homens
Ela ficara simplesmente parada
A hera subia pelas paredes do Verão
Tiritavam de medo os loucos os devotos os bandidos
Dormiam criaturas inocentes dentro de casas remotas
Feitas dos dias que tinham chegado e partido
No olho das vidraças embaçadas
No rosto sem nenhuma esperança
Na colheita do fogo noturno
Na grande distância cinzenta dos sorrisos
No latido dos cachorros conduzindo os tiranos
Nos gritos nas torturas por afogamento
No massacre dos campanários
Nos pés descalços e frios das cidades
Ela ficara parada com o braço para o alto
Uma estátua com uvas coroando-lhe a cabeça
Com pássaros cantando dentro de seus olhos
No pântano das lágrimas
Na longínqua floresta da alegria

    Goulart, Helvécio. Poemas Reunidos. Goiânia: Editora da UCG, 2007, p 98.
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26/04/13



    " Partilha "


Entrego-te a casa e as árvores
que vivem com a casa
o riacho que passa embaixo
dos gravatás e anêmonas
Entrego-te a rua que flutua
em teu olhar como a asa
de um canário amarelo que ainda canta
no pessegueiro em flor
Entrego-te a esquina que te encanta
do outro lado da casa o odor
dos pinheiros retilíneos e sensuais
os ígneos raios da manhã
resplandecente os silêncios abissais
a envolver a palavra doce e vã
que me disseste e eu disse
Entrego-te o começo e ingloriamente o fim
a seriedade a alegria a tolice
e assim tudo o que foi e o que restou de mim

  Goulart, Helvécio. Poemas Reunidos. Goiânia: Editora da UCG, 2007, p 28.
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