07/09/11

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Do sítio onde estava não te podia ver. Isto é:
não eras mais do que pedaços de formas
que depois eu completava com a janela do fundo
e o teu cabelo a encenar desordem. Vinha depois

um murmúrio cavo bater-me no sofá, algo a fingir
jogo ou vontade, ou as duas coisas à mistura -
que da alma em desalinho pouco consegue
saber, quem, como eu, tem por hábito sentar-se

à contraluz. Do sítio onde estava não te podia
ouvir. Isto é: não eras mais do que passos
lá dentro, a porta que não voltou a fechar-se,
o decidido puxar da cama. Enfim, no sítio

onde eu estava coseu-me o desejo um cós
de imagens ( arrojadas e novas ) e a tua luz
costurou-me uma bainha no coração.

  Mateus, Victor Oliveira in A Tua Luz Costurou-me uma Bainha no Coração de daniel gonçalves. Fafe:
Editora Labirinto, 2012, p 54.
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