28/12/12


Opto pelo olhar estetizante, com epígrafe de mulher moderna
desconhecida. (" Não estou conseguindo explicar minha ternura,
minha ternura, entende?") Não sou rato de biblioteca, não
entendo quase aquele museu da praça, não tenho embalo de
produção, não nasci para cigana, e também tenho o chamado
olho com pecados. Nem aqui? Recito WW pra você:
"Amor, isto não é um livro, sou eu, sou eu que você segura e
sou eu que te seguro (é de noite? estivemos juntos e sozinhos?),
caio das páginas nos teus braços, teus dedos me entorpecem,
teu hálito, teu pulso, mergulho dos pés à cabeça, delícia, e
chega -
Chega de saudade, segredo, impromptu, chega de presente
deslizando, chega de passado em videoteipe impossivelmente
veloz, repeat, repeat. Toma este beijo só para você e não me
esquece mais. Trabalhei o dia inteiro e agora me retiro, agora
repouso minhas cartas e traduções de muitas origens, me
espera uma esfera mais real que a sonhada, mais direta, dardos
e raios à minha volta, Adeus!
Lembra minhas palavras uma a uma. Eu poderei voltar. Te amo,
e parto, eu incorpóreo, triunfante, morto".


  César, Ana Cristina. Um Beijo que Tivesse um Blue: Antologia Poética. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005, p 77.
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