25/07/09

"Não é simples impudência o que contra ti vocifera!"

A (grande) interpretação da "Fedra" de Racine por DOMINIQUE BLANC.
DVD zona 2 com uma realização de Stéphane Metge (2003) e a encenação
de PATRICE CHÉREAU.

"Mensagem"

Para Hipólito, da Mãe - Fedra - Rainha - a mensagem.
Para o rapaz caprichoso, belo, fugindo de Fedra como,
De Febo pomposo, a cera... E pois então,
Para Hipólito, de Fedra: o gemer de lábios ternos.

Sacia minha alma! (Impossível, sem tocar os lábios,
Saciar a alma!) Impossível, ao tocá-los,
Não beijar Psique, dos lábios a visitante alada...
Sacia a minha alma: logo, sacia-me os lábios.

Cansada, Hipólito... Às putas e sacerdotizas - opróbrio!
Não é simples impudência o que contra ti vocifera!
Simples, só falas e mãos... Um grande mistério esconde
O seu tremor atrás dos lábios que o dedo sela.

Oh, perdoa, meu virgem!, donzel!, cavaleiro!, inimigo
Do deleite! Não é luxúria! Não é o seio da fêmea!
É ela, a sedutora! É lisonja de Psique -
Ouvir junto aos seus lábios o balbucio de Hipólito -

"Tem vergonha!" - Mas é tarde! É o último marulho!
Meus cavalos desvairam! Da rocha abrupta - em pó -
Também sou amazona! Lanço-me do cume dos peitos,
Fatais colinas - para o abismo do teu peito!

(Ou do meu?!) - Tenta! Ousa! Mais ternura!
Grifo na cera da tabuinha - ou cera de um coração
Feito a estilete escolar... Oh, antes lesse
Nos lábios o segredo de Hipólito a tua

Insaciável Fedra...


Marina Tsvetáeva In "Depois da Rússia 1922-1925", Relógio d'Água, Lisboa,
2001, pp 163-165 (tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra).
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