23/01/11

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" Fora e Dentro"


Longe de Plutão, o Verde,
a janela do céu.
Subi tantos degraus no sonho?
As paredes me apertam.
Lembro-me de Ícaro
nessas paragens sem nenhum caminho.
Mas é a única janela aberta, incerta,
por onde começar.

Não te escolhi, altura, impuseste-me o começo: grande,
me escolheste pequena,
os olhos fechados num sonho que sonhaste.

Paro e contemplo.
Dispo-me do medo, esse casulo usado.
Espero o que quiseres.
Sabes que te amo, sem chão,
com cicatrizes de nuvens.
Nem avanço ou recuo,
mas tento decifrar-te:
subitamente infinita
na espiral recurva.

Dora Ferreira da Silva in "Poesia Reunida", Topbooks Editora, Rio de Janeiro, 1999, p 96.
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