24/06/11

"(...) compreenderás/ que nada morre, nada desaparece,/ apenas deixa de ser em nós "

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 "Poema dos Elementos"

O tempo tudo transforma, essa é a lei
que nos cabe em sorte.
Mas se te sentares à sombra do velho carvalho
e fechares os olhos,
se ouvires o que o vento
te vem contar, compreenderás
que nada morre, nada desaparece,
apenas deixa de ser em nós
para passar a outras camadas deste mistério.

Gostava de te dar a mão e explicar-te
a ti, que possuis o terror da morte,
como tudo é sagrado e se renova,
tudo volta ao pó e depois ao ar,
tudo se transforma tão serenamente.

A água, a pedra, o tempo,
tudo são reflexos de tudo
o que nos precedeu,
das vozes dos nossos antepassados
que agora nos olham
de outros lados, sei-o,
sob a forma de árvores, pássaros,
tudo é tão incandescente, neste cosmos
como uma dança permanente entre os elementos.

Por isso, quando choras, é o rio
que entra em ti e lava a memória
da tua dor, o rio é já o tempo
que, em ti, leva ao esquecimento.

      Maria João Cantinho in "O Traço do Anjo", Edium Editores, Porto, 2011, p 53.
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