09/08/13

Urbano Tavares Rodrigues ( 6/12/1923 - 8/8/2013 )

.
   Vários têm sido os escritores que me têm marcado, uns pelas características da sua obra, outros pela sua forma de olhar o mundo, outros ainda pela grande lição de vida que todos os dias nos mostravam.
   A primeira vez que me encontrei com Urbano Tavares Rodrigues (aliás, eu dirigia-me sempre a ele por "Professor": a minha geração é ainda daquelas que sempre respeitou as gerações anteriores!) foi numa noite em que a Isabel Aguiar e o marido decidiram comprar bilhetes para irmos todos ver o "Saraband" de Bergman. Foi uma noite muito agradável: durante o intervalo, o ilustre professor deu-me logo uma lição acerca da relação entre Bergman e as cisões amorosas no romance francês do século XVIII. De regresso a casa, sentado no banco de trás do meu carro, o grande senhor explicáva-nos, com minúcia, o seu estado de saúde.
  Outros encontros se seguiram: conservo ainda as dedicatórias generosas que ele me escreveu no seu livro de poesia publicado pela Asa, no seu "Eterno Efémero", etc. Mas conservo sobretudo na memória a última vez em que conversámos: eu estava a organizar "O Prisma das Muitas Cores", quando lhe liguei, ao fim de algum tempo, ouço: " Já pensava que o Victor se tivesse esquecido de mim!" Esta foi uma das maiores lições de grandeza que este senhor me deu!  Esta simples frase! Fui então a sua casa buscar a sua colaboração para a Antologia, ele, com uma alegria sóbria, fez questão de me ler primeiramente o seu "Barranco de violetas"... Eu, naquele momento, senti-me minúsculo! Acabámos depois falando de amigos comuns que ambos admirávamos, sobretudo da Ana Sampaio e da Graça Pires. Depois, com a maior das simplicidades, disse-me que estava cansado e se eu não levava a mal que ele não me acompanhasse, pelo seu extenso corredor, até à porta. Era assim Urbano Tavares Rodrigues: ilustre académico, grande escritor, espírito atento e de uma extrema lucidez, mas também um homem a quem a fama nunca afectou e que foi para a minha geração uma lição de vida e de coerência. Num tempo de artifícios, de celebridades plastificadas, de vulgarização da mediocridade, acabou de partir um grande senhor, um autêntico aristocrata, no sentido socrático do termo.
  Até sempre, Professor!!!
.