16/09/13



(...)
   Desde muito pequena tive uma consciência aguda
da precariedade da minha condição social.
Foi sempre muito claro para mim que apenas
uma circunstância, aleatória ou não, mas muito frágil,
fizera com que eu nascesse daqueles pais,
e que não me tivessem trocado na maternidade,
e que eles não tivessem morrido cedo ou ficado
sem emprego,
(...)
Bastava que tivesse havido um incêndio,
uma inundação, um tremor de terra, uma epidemia,
(...)
uma condenação, um ataque de loucura,
uma vingança, uma maldição,
um divórcio, uma paixão, uma promessa não cumprida,
uma assombração, um despedimento, uma desilusão,
(...)
e eu já não seria... a ilusão que pareço ser.
Seria... outra ilusão que pareceria ser.


   Pedro, Risoleta Pinto. O homem da minha vida. Lisboa: Padrões Culturais Editora, 2009, pp 7 - 11.
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