18/02/12

" (...) Por tua causa eu andava contente/ nas ruínas, fazia as pazes com o tempo perdido. "

.  " No Terreno "

Foi por altura das ervas altas e dos arraiais.
Eu via-te outra vez ao fim da tarde e tudo se apagava
à tua volta, os acidentes terrenos, as montanhas do passado
e do futuro. Por tua causa eu andava contente
nas ruínas, fazia as pazes com o tempo perdido.

Na estrada à meia-noite o asfalto era morno, os grilos
estavam todos a cantar dentro do céu. Já não sei dizer
o muito que esperei de ti, os serões eram pródigos
e tinham os braços imprevistos de um fractal.

Fumavas dos meus cigarros, falavas da vida que tinhas
a milhares de quilómetros dali. Na minha própria
e exclusiva escuridão, eu já só existia para ti.

  Rui Pires Cabral in " A Super-Realidade ", Língua Morta, s/c., 2011, p 17.
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