01/07/12


                " À Espera dos Bárbaros "



- Que esperamos na ágora congregados?

    Os bárbaros hão-de chegar hoje.

- Porquê tanta inactividade no Senado?
  Porque estão lá os Senadores e não legislam?

    Porque os bárbaros chegarão hoje.
    Que leis irão fazer já os Senadores?
    Os bárbaros quando vierem legislarão.

- Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,
  e está sentado à maior porta da cidade
  no seu trono, solene, de coroa?

    Porque os bárbaros chegarão hoje.
    E o imperador espera para receber
    o seu chefe. Até preparou
    para lhe dar um pergaminho. Aí
    escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

- Porque os nossos dois cônsules e os pretores
  saíram hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas;
  porque levaram pulseiras com tantas ametistas,
  e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;
  porque terão pegado hoje em báculos preciosos
  com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?

    Porque os bárbaros chegarão hoje;
    e tais coisas deslumbram os bárbaros.

- E porque não vêm os valiosos oradores como sempre
   para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?

    Porque os bárbaros chegarão hoje;
    e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.

- Porque terá começado de repente este desassossego
  e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)
  Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,
  e todos regressam às suas casas muito pensativos?

   Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.
   E chegaram alguns das fronteiras,
   e disseram que já não há bárbaros.

E agora que vai ser de nós sem bárbaros.
Esta gente era alguma solução.

  Kavafis, Konstandinos. Os Poemas. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2005, pp 221 - 223 ( Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis).
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