19/09/09

.
.
.
    "Soneto da Inquietação"


Olho a ponte, olho o rio, mas não vejo
quem meus olhos procuram cegamente:
corre o tempo, fica a dor e o desejo
que o mundo se acabe de repente!

Passa um dia, outro dia, já não sei
por onde se perdeu meu pensamento;
caem sombras nos sonhos que sonhei
debruadas de mágoa e esquecimento.

Com a vida, por vezes, não me entendo,
nem com seus alados véus de ilusão.
E enquanto o meu mundo vai morrendo,

em saudosas vigílias de paixão
recordando o passado vou vivendo
numa louca e amarga inquietação.

António José Queirós In "Os Meninos e Outros Poemas", 2ª edição,
Editora Labirinto, Fafe, 2008, p 57.
.
.
.